domingo, 29 de julho de 2007

PAN RIO 2007 | No subúrbio, uma nave espacial














No subúrbio, uma nave espacial
(Zero Hora - CLAÚDIA LAITANO)

O cenário das provas de atletismo, o Estádio João Havelange, o popular Engenhão, é a obra mais impressionante entre todas que o Pan vai deixar de presente para o Rio. Impressionante porque é bonito, moderno, arrojado, mas também porque o visitante tem a nítida impressão de que uma nave espacial de outro planeta cavou seu espaço descuidadamente entre as ruas miúdas do subúrbio, criando um estranho contraste entre a alvíssima e monumental estrutura do estádio e o cinza envelhecido das casinhas baixas da vizinhança.

O bairro da Zona Norte onde o estádio está instalado, o Engenho de Dentro, fica a cerca de 40 minutos de Copacabana. É um bairro antigo da cidade, basicamente residencial, atravessado por uma linha de trem e cortado pela Linha Amarela. As ruas que separam o estádio do resto do bairro são estreitinhas. O comércio é de oficinas, vendinhas, botecos. Os moradores ainda sentam nas calçadas para conversar e olhar o movimento. (Para ter uma idéia melhor ainda do bairro, coloque a vitrola para tocar Gente Humilde e imagine.)

A construção de um estádio tão monumental no coração do subúrbio ainda gera polêmica. Boa parte da vizinhança está contente. Acredita que o estádio revaloriza o bairro e deve trazer melhorias - e, quem sabe, a chance de ganhar um dinheirinho a mais com o movimento de torcedores. O potencial para esse pequeno comércio já começou a ser testado, com os moradores armando banquinhas nas ruas próximas para vender bebidas, caldo de mocotó, feijão, sopa de siri - tudo a preços camaradas de Zona Norte. Os moradores comemoram também a segurança e a alegre movimentação do bairro durante o Pan. Mas algumas preocupações já começam a surgir. Como as ruas em volta são estreitas, é difícil chegar e mais difícil ainda estacionar. Para os dias de competição, o transporte indicado é o trem, mas a estação fica praticamente dentro do estádio, com escape pequeno para a saída dos passageiros - problema que deve se agravar quando as platéias gigantescas do futebol começarem a chegar.

Deixando-se de lado as preocupações com infra-estratura, o fato é que mesmo quem não se interessa muito por esporte fica de queixo caído quando vê o estádio de perto. E por dentro ele é tão bonito e impactante quanto por fora. Com capacidade para 45 mil torcedores, o Engenhão tem acessos amplos e uma grande vantagem: é possível ter uma boa visão do campo de qualquer lugar. Resta saber que cores tomarão conta da casa depois do Pan, já que a nave espacial do Engenho de Dentro ainda está sendo disputada por Fluminense e Botafogo.

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