Podemos fazer grandes eventos
(Caderno de Esportes do jornal "O Globo")
O prefeito Cesar Maia, assim como outros políticos do estado, vão ter mais trabalho a partir de agora. A avaliação é do próprio alcaide nesta entrevista ao GLOBO. Para ele, o bom funcionamento dos serviços públicos de segurança, transportes, hospitais e controle urbano, entre outros, durante os 17 dias do Pan-Americano deu à população a consciência de que é possível melhorar a cidade se houver investimentos. "Agora os políticos só vão poder dizer quando será possível", disse o prefeito. Já se preparando para lançar o nome do Rio como sede das Olimpíadas de 2016, Cesar diz que o mote da candidatura tem que ser aquecimento global e meio ambiente, e que quer criar uma empresa para administrar a candidatura e os Jogos.
Dimmi Amora
O GLOBO: As vaias foram a polêmica destes Jogos. Como o senhor se sentiu sendo vaiado, no fim da festa do que foi considerado o melhor Pan da história?
CESAR MAIA: Estava absolutamente certo de que elas viriam. Só não vieram na abertura porque falaram nomes seguidos e as vaias ficaram concentradas no Lula. A população vaia a categoria política que não merece respeito pela série de escândalos que estão acontecendo.
Eu sabia que as vaias viriam e avisei ao Nuzman três vezes. Naquela hora não somos os políticos. Somos a instituição. Tanto que, quando eu ou Cabral passávamos sozinhos, éramos aplaudidos. Mas não achei ruim. O brilho da vaia é o caráter espontâneo delas. Isso é muito bonito.
O GLOBO: O que fica para a população?
CESAR: O Rio fica agora com a maior rede de equipamentos esportivos e culturais do país. Agora não pode é usar o Maracanã para fazer pelada, como acontecia. Vamos licitar a Arena e, se não houver interessados, vamos assumir. O Engenhão ficará com os clubes. O velódromo e o parque aquático serão administrados pelas confederações e por nós. Nestes, vamos precisar de patrocínios.
O GLOBO: Já é possível avaliar se os custos do Pan serão pagos com aumento da arrecadação?
CESAR: Só comprovo isso no tempo.
Mas já temos dados que mostram que houve melhoria nos empregos.
Pessoas vieram trabalhar e fazer turismo aqui. Acho que vamos recuperar o dinheiro investido ao longo deste ano (R$ 1,1 bilhão). Mas há também ganhos intangíveis, como a valorização dos imóveis com investimentos. Além disso, provamos que podemos fazer grandes eventos longos. Já tínhamos provas de que fazíamos grandes eventos na praia e por isso os Rolling Stones e o Lenny Kravitz foram para lá.
O GLOBO: O senhor também disse que haveria um ganho para a autoestima da cidade?
CESAR: Este é mais um desafio do que um ganho permanente. A população vai perguntar: "E depois do Pan?". É natural que numa festa de casamento você faça um esforço para arrumar a casa, maquiar a filha, contratar flores, música. Mas não dá para ser sempre assim. Para a cidade fica a experiência de que é possível fazer as coisas funcionarem não só por dois dias, como sempre fizemos, mas por 17 dias. O sucesso da segurança é da PM, já que a Força Nacional ficou só nos equipamentos. A PM mostrou que o problema é de efetivo, não de planejamento.
O GLOBO: Mas foi apenas na Polícia Militar que houve concentração de efetivos?
CESAR: Também foi assim no controle urbano, no trânsito, na saúde. Dobramos o horário dos funcionários dos hospitais e descobrimos que isso é muito melhor que contratar por emergência.
Em 12 anos aqui, nunca ninguém pensou nisso. Então, agora já temos uma memória de como as coisas podem funcionar. A população agora vai cobrar da seguinte forma: se não há recursos para fazer, quando haverá?
O GLOBO: O senhor reconheceu que deixou de fazer investimentos na cidade para aplicar recursos no Pan. Qual será a prioridade agora?
CESAR: Não tiramos da saúde, da educação e dos servidores. Tiramos da conservação e das obras, e agora esse dinheiro vai aos poucos sendo reposto. Acredito que serão R$ 100 milhões ao mês.
O GLOBO: A preparação para conseguir os Jogos Olímpicos de 2016 já começou?
CESAR: Já fizemos uma primeira reunião hoje (ontem) e vamos transformar a Secretaria do Pan em Secretaria dos Jogos Olímpicos. Minha idéia é usar o modelo clássico europeu e americano de constituir uma empresa com fim específico para organizar a Olimpíada. Ela seria gerida por um grande empresário.
Os governos viabilizariam, o Comitê Olímpico daria as diretrizes do que precisa e a empresa realizaria. A empresa pode ir atrás de recursos privados.
O GLOBO: A empresa também faria investimentos públicos que são necessários e obrigatórios pelo caderno de encargos do Comitê Olímpico, como transporte e meio ambiente?
CESAR: A empresa vai dar o conceito, o fio condutor. Não sei se fará os investimentos públicos. Acho que nosso conceito tem que ser aquecimento global e meio ambiente.
Quais os problemas do Rio? Hoje, 37% das emissões que colaboram para o aquecimento são dos transportes. Precisamos de investimentos em saneamento básico e limpeza que estão contemplados no meio ambiente. Os investimentos públicos necessários viriam deste mote.
O GLOBO: E quanto à rede hoteleira. É preciso que ela aumente?
CESAR: Perdemos a Olimpíada de 2012 porque eles não acreditaram que os investimentos em hotelaria seriam feitos. Agora, se sentirmos que não está havendo isso, vou fazer uma lei para numerar os quartos dos hotéis. Isso faz com que uma pessoa possa comprar um quarto na construção e alugar para a rede hoteleira. Isso não é aparthotel. Mas garante investimento.
O GLOBO: Os problemas que aconteceram nas instalações provisórias...
CESAR: Isso eu não reconheço. Chamamos uma consultoria cubana e fizemos tudo o que eles pediram.
O GLOBO: E quanto aos problemas de ingressos?
CESAR: Isto eu ainda estou tentando entender.
Uma empresa terceirizada foi chamada e não usou o sistema eletrônico que foi comprado para os equipamentos. Além disso, não consigo entender como houve ingresso duplicado. Vamos pedir explicações, mas de qualquer forma estamos indo para Pequim para ver como está sendo feito lá. Fomos em Atenas e não vimos isso. Foi um erro.
O GLOBO: O senhor fez promessa para tudo dar certo?
CESAR: Quatro. Prometi que iria de gravata a todas as inaugurações. Não beberia vinho e uísque no fim de semana do Pan. Não entregaria qualquer medalha. E leria três livros de história argentina. Cumpri todas.
.
(Caderno de Esportes do jornal "O Globo")
O prefeito Cesar Maia, assim como outros políticos do estado, vão ter mais trabalho a partir de agora. A avaliação é do próprio alcaide nesta entrevista ao GLOBO. Para ele, o bom funcionamento dos serviços públicos de segurança, transportes, hospitais e controle urbano, entre outros, durante os 17 dias do Pan-Americano deu à população a consciência de que é possível melhorar a cidade se houver investimentos. "Agora os políticos só vão poder dizer quando será possível", disse o prefeito. Já se preparando para lançar o nome do Rio como sede das Olimpíadas de 2016, Cesar diz que o mote da candidatura tem que ser aquecimento global e meio ambiente, e que quer criar uma empresa para administrar a candidatura e os Jogos.
Dimmi Amora
O GLOBO: As vaias foram a polêmica destes Jogos. Como o senhor se sentiu sendo vaiado, no fim da festa do que foi considerado o melhor Pan da história?
CESAR MAIA: Estava absolutamente certo de que elas viriam. Só não vieram na abertura porque falaram nomes seguidos e as vaias ficaram concentradas no Lula. A população vaia a categoria política que não merece respeito pela série de escândalos que estão acontecendo.
Eu sabia que as vaias viriam e avisei ao Nuzman três vezes. Naquela hora não somos os políticos. Somos a instituição. Tanto que, quando eu ou Cabral passávamos sozinhos, éramos aplaudidos. Mas não achei ruim. O brilho da vaia é o caráter espontâneo delas. Isso é muito bonito.
O GLOBO: O que fica para a população?
CESAR: O Rio fica agora com a maior rede de equipamentos esportivos e culturais do país. Agora não pode é usar o Maracanã para fazer pelada, como acontecia. Vamos licitar a Arena e, se não houver interessados, vamos assumir. O Engenhão ficará com os clubes. O velódromo e o parque aquático serão administrados pelas confederações e por nós. Nestes, vamos precisar de patrocínios.
O GLOBO: Já é possível avaliar se os custos do Pan serão pagos com aumento da arrecadação?
CESAR: Só comprovo isso no tempo.
Mas já temos dados que mostram que houve melhoria nos empregos.
Pessoas vieram trabalhar e fazer turismo aqui. Acho que vamos recuperar o dinheiro investido ao longo deste ano (R$ 1,1 bilhão). Mas há também ganhos intangíveis, como a valorização dos imóveis com investimentos. Além disso, provamos que podemos fazer grandes eventos longos. Já tínhamos provas de que fazíamos grandes eventos na praia e por isso os Rolling Stones e o Lenny Kravitz foram para lá.
O GLOBO: O senhor também disse que haveria um ganho para a autoestima da cidade?
CESAR: Este é mais um desafio do que um ganho permanente. A população vai perguntar: "E depois do Pan?". É natural que numa festa de casamento você faça um esforço para arrumar a casa, maquiar a filha, contratar flores, música. Mas não dá para ser sempre assim. Para a cidade fica a experiência de que é possível fazer as coisas funcionarem não só por dois dias, como sempre fizemos, mas por 17 dias. O sucesso da segurança é da PM, já que a Força Nacional ficou só nos equipamentos. A PM mostrou que o problema é de efetivo, não de planejamento.
O GLOBO: Mas foi apenas na Polícia Militar que houve concentração de efetivos?
CESAR: Também foi assim no controle urbano, no trânsito, na saúde. Dobramos o horário dos funcionários dos hospitais e descobrimos que isso é muito melhor que contratar por emergência.
Em 12 anos aqui, nunca ninguém pensou nisso. Então, agora já temos uma memória de como as coisas podem funcionar. A população agora vai cobrar da seguinte forma: se não há recursos para fazer, quando haverá?
O GLOBO: O senhor reconheceu que deixou de fazer investimentos na cidade para aplicar recursos no Pan. Qual será a prioridade agora?
CESAR: Não tiramos da saúde, da educação e dos servidores. Tiramos da conservação e das obras, e agora esse dinheiro vai aos poucos sendo reposto. Acredito que serão R$ 100 milhões ao mês.
O GLOBO: A preparação para conseguir os Jogos Olímpicos de 2016 já começou?
CESAR: Já fizemos uma primeira reunião hoje (ontem) e vamos transformar a Secretaria do Pan em Secretaria dos Jogos Olímpicos. Minha idéia é usar o modelo clássico europeu e americano de constituir uma empresa com fim específico para organizar a Olimpíada. Ela seria gerida por um grande empresário.
Os governos viabilizariam, o Comitê Olímpico daria as diretrizes do que precisa e a empresa realizaria. A empresa pode ir atrás de recursos privados.
O GLOBO: A empresa também faria investimentos públicos que são necessários e obrigatórios pelo caderno de encargos do Comitê Olímpico, como transporte e meio ambiente?
CESAR: A empresa vai dar o conceito, o fio condutor. Não sei se fará os investimentos públicos. Acho que nosso conceito tem que ser aquecimento global e meio ambiente.
Quais os problemas do Rio? Hoje, 37% das emissões que colaboram para o aquecimento são dos transportes. Precisamos de investimentos em saneamento básico e limpeza que estão contemplados no meio ambiente. Os investimentos públicos necessários viriam deste mote.
O GLOBO: E quanto à rede hoteleira. É preciso que ela aumente?
CESAR: Perdemos a Olimpíada de 2012 porque eles não acreditaram que os investimentos em hotelaria seriam feitos. Agora, se sentirmos que não está havendo isso, vou fazer uma lei para numerar os quartos dos hotéis. Isso faz com que uma pessoa possa comprar um quarto na construção e alugar para a rede hoteleira. Isso não é aparthotel. Mas garante investimento.
O GLOBO: Os problemas que aconteceram nas instalações provisórias...
CESAR: Isso eu não reconheço. Chamamos uma consultoria cubana e fizemos tudo o que eles pediram.
O GLOBO: E quanto aos problemas de ingressos?
CESAR: Isto eu ainda estou tentando entender.
Uma empresa terceirizada foi chamada e não usou o sistema eletrônico que foi comprado para os equipamentos. Além disso, não consigo entender como houve ingresso duplicado. Vamos pedir explicações, mas de qualquer forma estamos indo para Pequim para ver como está sendo feito lá. Fomos em Atenas e não vimos isso. Foi um erro.
O GLOBO: O senhor fez promessa para tudo dar certo?
CESAR: Quatro. Prometi que iria de gravata a todas as inaugurações. Não beberia vinho e uísque no fim de semana do Pan. Não entregaria qualquer medalha. E leria três livros de história argentina. Cumpri todas.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário