Severino renuncia e diz que
sua queda é vitória de 'elitezinha que não larga o osso'
Isabel Braga - O Globo
BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), renunciou ao cargo e ao mandato parlamentar em discurso na tarde desta quarta-feira. Ele é o primeiro presidente da Câmara na História a renunciar e o quarto deputado que perde o mandato desde o início da série de escândalos, em maio deste ano. Os outros são Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Carlos Rodrigues (PL-RJ), que renunciaram, e Roberto Jefferson (PTB-RJ), cassado.
No instante em que Severino encerrava sua fala, foi ouvido um grito que partiu das galerias:
- Vai embora, Severino!
Logo que assumiu a presidência da Câmara, o vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL), mandou evacuar as galerias, por considerar impróprio o comportamento de um grupo de estudantes. Houve confusão e os seguranças da Câmara tiveram que tirar os manifestantes à força.
Severino Cavalcanti, acusado de receber propina para renovar a licença de um restaurante que funciona na Câmara, justificou a renúncia:
- Estranharam minha demora em tomar a decisão de renunciar. É que o senso comum consolidou como verdade a idéia de que renúncia é confissão de culpa. Em meu caso, isso significaria admitir atos que não pratiquei e pelos quais não tenho responsabilidade. Meus acusadores não me deixaram alternativa. Optei pela renúncia porque já me sabia condenado de antemão.
E avisou:
- Voltarei. O povo me absolverá. O povo pernambucano mais uma vez não me faltará.
No discurso de seis páginas, que foi lido, Severino se disse perseguido por uma 'elitezinha' que não aceitou a democratização que diz ter promovido na Câmara.
- Atraí forças antagônicas, poderosas e destruidoras, a elitezinha, essa que não quer jamais largar o osso, insuflou contra mim seus cães de guerra, arregimentou forças na academia e na mídia e alimentou na opinião pública a versão caluniosa de um empresário que precisava da mentira para encobrir as dívidas crescentes de seus restaurantes - afirmou.
Severino repetiu que as acusações contra ele são inconsistentes, falsas e mentirosas e que vai comprovar isso nos tribunais.
- Resistirei, jamais fui acusado de nada, nenhuma denúncia, não vou, portanto, agora, curvar-me à pressão dos poderosos - garantiu.
No discurso, Severino lembrou sua origem humilde e citou trecho da obra de escritor Euclides da Cunha segundo a qual o "sertanejo é antes de tudo um forte". Severino disse que só pôde concluir o primeiro grau porque precisava trabalhava e ajudar na educação das quatro irmãs e lembrou que foi para São Paulo, onde conseguiu se estabelecer com um próspero comerciante.
Severino afirmou ainda ter empobrecido na política. E se emocionou ao citar a mulher, Amélia Cavalcanti:
- O político levou o bem-sucedido comerciante à bancarrota e arrastou na correnteza também o patrimônio de Catharina Amélia, uma mulher rica antes de casar-se com um comerciante que tomou a decisão de assumir a política como vocação e como destino. Senhores e senhoras, diante de tantas falsas acusações, falo a verdade: Severino Cavalcanti empobreceu com a política.
Severino disse que deixa a Câmara como político endividado e que não tem aposentadoria, porque sacou o saldo de sua contribuição previdenciária na Câmara para pagar dívidas de campanha.
- Deixo a Câmara como entrei - discursou.
Publicada a renúncia de Severino Cavalcanti, a Câmara terá prazo de cinco sessões para marcar nova eleição para a escolha do presidente da Casa.
http://oglobo.globo.com/online/pais/169900498.asp